As exigências atuais em torno do ensino de Ciências, em particular do ensino de Física, têm desencadeado muitas propostas que defendem a iniciação de crianças nos estudos de conceitos científicos (Ostermann e Moreira,1990).
Devido a essas exigências, deve-se refletir sobre o ensino de Ciências desde as séries iniciais, para que esse possa favorecer a ocorrência de questionamentos que proporcionem situações problemáticas interessantes e possibilitem a construção de conhecimentos adequados, ou seja, necessita-se buscar conteúdos dentro do mundo da criança - mundo físico em que ela vive e brinca - o qual possa ser trabalhado nas primeiras séries do Ensino Fundamental, permitindo que novos conhecimentos possam ser adquiridos (Carvalho et al., 1998).
Carvalho (1991) destaca a necessidade de que cursos de atualização e formação tratem de maneira especial os conteúdos específicos, garantindo com isso, a atualização dos conhecimentos dos professores em determinadas áreas, bem como a inclusão do processo histórico dos conhecimentos em pauta.
É necessário manter coerência ao princípio básico de que, para ensinar um conteúdo, não basta saber a teoria e de imediato aplicá-la no ensino. É preciso conhecer a teoria, saber como ela foi construída, passar pelos processos de construção dessa teoria, incorporá-la na sua plenitude, para depois discutir como ela pode ser transmitida a outro nível de ensino, para os alunos com divergência de idade e portadores de outras experiências.
Há de se concordar com Carvalho quando ele denota a existência de muitas lacunas no conhecimento dos professores, lacunas essas oriundas não somente dos cursos de Habilitação para Magistério (Normal) e Licenciaturas, mas também decorrentes do grande avanço do conhecimento nas últimas décadas e da amplitude e diversificação dos conteúdos.
A discussão de conteúdos de Física no ensino fundamental faz-se necessária, pois, nesta etapa, os alunos terão, pela primeira vez, o contato com situações de ensino de concepções e conceitos científicos, que serão fundamentais nos processos de aprendizagem subsequentes em Ciências. Em Carvalho (et al., 1998, p. 6), percebe-se que se os primeiros contatos com atividades de ensino de Ciências forem agradáveis para as crianças, atribuindo-lhes a construção de significado, a probabilidade de serem alunos interessados em Ciências, nos anos posteriores, será maior.
Os cursos de Habilitação para Magistério (Normal) e Licenciaturas têm formado professores com diversas fragilidades conceituais em relação aos conteúdos de Ciências (em especial Física) e, também em sua preparação geral, com graves conseqüências para o ensino. Este trabalho pretende apresentar uma proposta didática que auxilie na superação de algumas deficiências encontradas nos cursos de formação de professores de nível médio (curso Normal).
É fundamental rever as escolhas de conteúdo, geralmente voltadas para a Biologia, abordando apenas conceitos. E, ainda, suas visões de interdisciplinaridade são restritas, ou pouco estão refletidas na forma tradicional de ensino e de aprendizagem que se manifestam em suas aulas.
Acredita-se, por isso, que o ensino de Física na Educação Básica deva ter, como foco principal, a necessidade de vincular aos conhecimentos dessa disciplina questões relacionadas à vida cotidiana dos alunos. Para isso, também é necessário que a Física discutida na escola esteja em sintonia com uma formação humanista dentro de uma perspectiva sociocultural. Isso tem implicado uma preocupação com a formação dos alunos do Curso Normal, que serão alguns dos futuros professores das séries iniciais, a fim de que possam estar preparados, conceitual e metodologicamente, para, além de conhecerem o conteúdo que irão ensinar, serem capazes de preparar e realizar atividades potencialmente significativas para seus alunos.
Na escola brasileira, segundo os PCNs, apesar da sua importância e do interesse que pode despertar pelos temas que envolve, o ensino de Ciências Naturais tem sido frequentemente conduzido de forma desinteressante e pouco compreensível. A abordagem tradicional dos conhecimentos por meio de definições e classificações estanques que devem ser decoradas pelo estudante contraria as principais concepções de aprendizagem humana, como, por exemplo, aquela que a compreende como construção de significados pelo sujeito da aprendizagem, debatida no documento de Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Quando há aprendizagem significativa, a memorização de conteúdos debatidos e compreendidos pelo estudante é completamente diferente daquela que se reduz à mera repetição automática de textos cobrada em situação de prova.
Torna-se, de fato, difícil para os estudantes apreenderem o conhecimento científico que, muitas vezes, discorda das suas observações cotidianas e do senso comum. A exemplo disso destaca-se a idéia de que um cobertor serve para aquecer, diferindo do conhecimento científico, pois a função do cobertor é dificultar as trocas de energia na forma de calor entre corpo e meio ambiente. Embora, na maioria das vezes, não seja simples romper com conhecimentos intuitivos que os alunos trazem para a sala de aula, faz-se necessário discuti-los.
Dentre os objetivos do ensino fundamental que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) apontam acreditamos que o objetivo de que os alunos sejam capazes de perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente seja fundamental no nosso trabalho. Assim como o objetivo de que o aluno seja capaz de compreender a cidadania como participação social e política, adotando no dia a dia atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio as injustiças, respeitando o outro e exigindo respeito para si.
Na sociedade atual o conhecimento científico e tecnológico é muito valorizado e, acreditamos que com o passar dos tempos essa valorização será maior ainda. Mas, só isso não basta, é necessário formar um cidadão crítico e atuante na sociedade em que está inserido.
O papel das Ciências Naturais é o de colaborar com a compreensão do mundo e suas transformações para que o aluno possa intervir de maneira a melhorá-la. Com o avanço tecnológico o suprimento das necessidades humanas ficou facilitado, mas também é fundamental saber avaliar os riscos e benefícios de cada tecnologia. A utilização do conhecimento científico deve sempre estar associada ao processo, histórico e social que vivemos, para que, ao intervir, possamos reconstruir a relação do homem com a natureza.
O aluno deverá ainda, segundo os PCNs, saber utilizar conceitos científicos básicos, associados à energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida; saber combinar leituras, observações, experimentações e registros para coleta, comparação entre explicações, organização, comunicação e discussão de fatos e informações (PCNs, 2001).
O Brasil, mesmo possuindo um currículo bem estruturado, possui graves problemas em seu ensino. No Teste de Pisa, patrocinado pela UNESCO, envolvendo 43 países, o Brasil obteve o segundo pior resultado tanto em leitura como em Ciências (Ivanissevich, 2003). Isso mostra que o mais importante não é a informação que se encontra em documentos oficiais, mas as verdadeiras práticas de sala de aula, as quais são reveladoras de uma situação calamitosa (Schroeder, 2004).
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